Avião de Céu Aberto

Desde 2006, estamos vivendo uma crise intermitente na aviação brasileira. Às vezes, em face de problemas da Infraero, outras, das empresas aéreas, às vezes, tudo. E vamos alternando as crises. Com o tempo que já dura, começa parecer permanente. Dia desses, fomos ao RJ e esperamos 15 minutos no avião para a aproximação de uns 30 metros para descermos. E, encostado, esperamos mais 10 minutos por uma escada. Foi um espetáculo magistral de incompetência. Algumas de nossas empresas mais tradicionais desapareceram, varridas pelos maus tempos ou administração inadequada. E não estamos livres de novos debacles. A atual situação é fortemente propícia a isso, com empresas apresentando prejuízos por motivos internos e externos. E com o governo sempre atrapalhando. E nada indica que seja passageiro e não continuará ao longo do futuro próximo. Infelizmente, e para variar, o governo tem muita culpa no “cartório”. Seja por meio de dívidas com o setor, regulamentação inadequada, excesso de tributação, seguidos aumentos dos combustíveis etc. Há muitos anos, em outros artigos, já pedimos a constituição de empresa aérea única. De modo que tenha maior chance de sobrevivência e competição com as estrangeiras. Sendo maior, poderá haver economia de escala, com maior produtividade. Em especial, com a difícil situação em que se encontra o setor de aviação civil no mundo, desde o inesquecível evento das torres gêmeas em 2001, que assombrou a humanidade. As coisas nunca mais foram as mesmas para a aviação, embora tanto tempo já tenha passado desde então. Parece-nos, no entanto, que isso é muito difícil de ocorrer neste país. Em que parece que as empresas e o governo preferem a morte à união. Diferentemente do que ocorre no exterior, onde as fusões são normais e constantes. Tudo em nome da sobrevivência e sinergia. É o capitalismo em prática. Todos percebem que a crise é intensa, e a empresa única uma utopia e sonho de verão. Mas, como é o consumidor que paga, e nem é devidamente respeitado, só vemos uma solução, que já discutimos no passado. Assim, uma vez mais, nos repetindo, porque achamos que vale a pena, vamos pedir que se pratique o mais breve possível a política de céu aberto. Com ela, teremos as empresas estrangeiras explorando nosso tráfego aéreo. E não importa se não nos permitirem fazer isso no exterior, nos países de origem delas. O que estamos procurando é uma solução para o nosso país, não para os delas. Assim, com as estrangeiras explorando a aviação no Brasil, mais empresas, maior quantidade de aeronaves, mais destinos servidos, teremos serviços melhores. Com o fim do monopólio – empresa única – ou oligopólio – poucas empresas -, com mais concorrência, o que não ocorre hoje, o consumidor terá mais opções e maior poder de barganha. Ninguém desconhece, e já escrevemos muito sobre isso, que não existe nada melhor do que a saudável competição capitalista para melhoria de preços e serviços. E isso a todas as partes envolvidas. A menos, obviamente, que seja formado um cartel, prática que não deve ser esquecida nem descartada. Mas isso nos parece, numa situação dessas, pouco provável. Obviamente, o governo terá de fazer a sua parte. Com menos intervenção na economia e com redução de impostos, em especial no combustível. E já que o governo nunca consegue, e jamais conseguirá ser um bom gestor, pelo menos que seja um bom fiscal e fiador da livre concorrência. Só queremos para a aviação o mesmo que ocorre na navegação marítima de turismo. Portanto, a política de céu aberto, para nós, é uma necessidade. Ainda mais quando nos metemos a querer realizar competições internacionais do quilate que pleiteamos e conseguimos, e para as quais não estamos preparados. E, dificilmente, estaremos sem excessivos sacrifícios ao povo. Claro que não descartamos também novas empresas nacionais fazendo nossos voos internos. Mas, para isso, entra novamente o governo com vontade política para facilitar a abertura de novas empresas. Mesmo com sócios estrangeiros majoritários. Não há razão para não praticarmos o capitalismo de fato. Para não entendermos que o povo é a opção primeira de qualquer governo. O governo não pode ser a opção primeira de um povo. Um governo deve ser apenas um facilitador-mor, sempre em prol da sociedade e não de si próprio. Querer deve ser poder, e não dependência da vontade e do poder do governo. Com isso, acreditamos que os consumidores estarão mais bem servidos, não tendo de se sujeitar a determinadas empresas, serviços, preços, destinos e desconsideração. O que ocorre com preocupante frequência. Embora, mais preocupante seja a submissão do brasileiro, que cada vez mais aceita tudo como se fosse normal, da vida, inevitável.

Porto de Santos: gargalos e acessos

Apesar da crise global, o Porto de Santos deverá aumentar sobremaneira o volume de cargas movimentadas neste ano de 2013. Isso se dará não só pela volta ao complexo santista de mercadorias que, atraídas por benefícios fiscais, estavam sendo desviadas para outros portos como pela entrada em operação nos próximos meses de dois novos terminais, que vão ampliar bastante a sua capacidade operacional. De fato, com a entrada em funcionamento dos terminais da Brasil Terminal Portuário (BTP) e da Embraport, a capacidade de movimentação de contêineres do Porto subirá de 3,2 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) para 8,1 milhões por ano. E logo, segundo previsão da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), essa capacidade deverá atingir os 10 milhões de TEUs anuais. Com o crescimento abrupto desses números, o temor que fica é quanto a capacidade do Porto para receber e distribuir cargas. Até porque os acessos ao cais já apresentam sérios problemas para responder à demanda atual. E os sinais de esgotamento não estão apenas dentro da zona portuária, mas igualmente no Sistema Anchieta-Imigrantes e até no Rodoanel, que sequer está concluído. É de reconhecer que o Governo do Estado, que historicamente sempre privilegiou o Interior na questão rodoviária em detrimento do Litoral, está preocupado com a situação e já iniciou obras que vão eliminar alguns gargalos logísticos, como o minianel viário de Cubatão, que, ao unir as rodovias Padre Manoel da Nóbrega, Anchieta e Cônego Domênico Rangoni, deverá acabar com os congestionamentos diários que ocorrem no local, prejudicando também o polo industrial. Mas só essas obras não serão suficientes, tal o volume de carga projetado. É claro que novos viadutos e a implantação de faixas adicionais irão aumentar a fluidez do trânsito, mas a médio prazo o escoamento de cargas deverá apresentar novos gargalos. Como sabe quem já andou pelo Porto de Houston, nos EUA, a saída está no crescimento da participação do modal ferroviário na matriz de transporte brasileira. Hoje, 25% da carga destinada ao Porto de Santos são transportados por ferrovia, mas o ideal seria pelo menos 35%. [epico_capture_sc id=”21329″] É o que se prevê para quando o Ferroanel estiver concluído em 2015. Esse empreendimento vai eliminar o gargalo do transporte de cargas na região metropolitana de São Paulo, facilitando o fluxo rumo à Serra do Mar e ao Porto de Santos. Mas não se deve imaginar que o transporte de contêineres por essa rota será tarefa fácil. Até porque a ferrovia ainda tem muito a ganhar com o agronegócio e a mineração, antes de investir no transporte de contêineres, que hoje representa pouco mais de 1% da movimentação total do modal. Afinal, para tanto, haveria a necessidade de aumentar a rede de terminais intermodais ou pólos de concentração de cargas, além de reforçar pontes e abrir ou ampliar túneis, o que exigiria investimentos elevados. E não se sabe até que ponto as empresas concessionárias de ferrovias estariam dispostas a investir no segmento.