Estamos todos acostumados a ouvir do governo, que os problemas brasileiros são externos. Que estamos sempre fazendo tudo certo. Que as crises mundiais nos atrapalham. Havendo estabilidade cresceremos normalmente. E isso não é de hoje. Desde o final dos anos 70 ouvimos coisas como estas. Quando o mundo sofreu os choques do petróleo em 1973 e em 1979 ouvimos do presidente que “éramos uma ilha de tranqüilidade”.
Essa malfadada “inspiração” nos legou o que temos até hoje. Uma crise quase eterna. Em que há 30 anos estamos empatando. Com crescimento diminuto. Não coerente com as nossas potencialidades. Em que o crescimento do país entre 1901 e 1980 foi de 4,9% ao ano. 8,1% entre 1959 e 1980. E 11% entre 1967 a 1974. A partir daí tivemos três décadas perdidas. A de 80 com crescimento médio de 2,7% ao ano. A de 90 com 2,1%. E a 00 com 3,5%. Nas três décadas tivemos média anual de menos de 3%. Um retrocesso com o que vínhamos apresentando.
E hoje, como ocorreu no passado, os governantes culpam a crise mundial e seu baixo crescimento. Esquecendo-se que o mundo cresceu nessas três décadas. E muito. Em especial os países emergentes como a China, Índia, Coréia, Chile, Hong Kong, Singapura, Taiwam e outros. Cujas economias deslancharam e vários deles têm renda per capita alta. Principalmente comparada com o Brasil. Quem ainda tem renda per capita baixa melhorou mais do que nós. A China é bom exemplo. Saiu de uma renda per capita de bem menos de 10% da brasileira, para cerca de metade dela. Num vigoroso crescimento médio de 10% ao ano desde 1979. E quem nem sentiu a crise de 2008/9.
Assim, não há como se dizer que o país não cresce em face do restante do mundo. E das poucas crises pelas quais o mundo passou. O Brasil não cresce devido à sua própria culpa. Como disse o presidente chinês à presidente do Brasil, no início de 2011, em visita à China. O problema do Brasil é o Brasil, não a China.
A China tem feito a sua parte. Mantendo uma taxa de inflação de cerca de 5% ao ano, que não é muito elevada. Com taxa de juros coerente com sua inflação. Com investimento elevadíssimo, de 45% do PIB – produto interno bruto. Criando um belo mercado consumidor. Em que cerca de 600 milhões, quase metade da sua população, foi retirada da pobreza. Que hoje consome extraordinariamente. Fazendo com que o país tenha lá todos os grandes bancos do mundo. Todas as grandes cadeias de supermercados. O maior mercado do mundo de automóveis, telefones, etc. E compra muito do Brasil e está ajudando.
Enquanto isso, no Brasil, criticamos fartamente a China pelas nossas agruras. Com quem não conseguimos competir em praticamente nada. Para quem vendemos minério de ferro, e de quem compramos trilhos, por preço oito vezes maior. Com nosso minério. Assim, partindo para os fatos, seria de se perguntar, singelamente, por que não produzimos aqui os trilhos para nossas ferrovias. Pergunta difícil essa (sic).
Seguindo as sábias palavras do presidente chinês, devemos fazer nossa lição de casa. E, após isso, se for o caso, reclamarmos dos outros.
A China tem taxa de juros, como dissemos, em consonância com a taxa de inflação. Enquanto a nossa é quase o triplo da inflação projetada. E o dobro da inflação que estamos realizando, que está razoavelmente descontrolada. Com isso, o empresário brasileiro não tem muitas condições de investir. E, por mal de todos os pecados, embora a taxa Selic seja agora de “apenas” 12% ao ano, nenhum empresário brasileiro obtém empréstimos para a produção em menos de, pelo menos, o dobro disso. Os consumidores, então, chegam a pagar mais de 200% pelas compras em cartão de crédito. E quase isso no empréstimo pessoal.
A carga tributária da China é de 17%. O que significa, aos trabalhadores e consumidores, uma renda pessoal adequada para consumo. No Brasil e carga tributária gira ao redor de 37%. A mais alta do mundo em termos relativos ao PIB, e considerando o retorno dela à população. No Brasil temos que ter convênio médico particular, para termos uma saúde adequada. Temos que pagar a escola para obter um estudo minimamente razoável. Temos que pagar segurança para termos um mínimo de tranquilidade. Considerando tudo isso, podemos afirmar que “a carga tributária brasileira real é de cerca de 50%”.
A taxa de investimento na China, como relatamos, é de 45%, com mínimo de 40% do PIB. Em que a produção é valorizada. O país quer crescer, e tem conseguido, através da produção de mercadorias. E não de produção financeira (sic). No Brasil, segundo dados conhecidos, o investimento, entre 1995 e 2010, teve média de 17-18%. Ou seja, menos do que o necessário para simples manutenção. Considerando que máquinas, equipamentos, veículos, tem taxa de depreciação anual de 20%. Analisando os fatos fica a sensação de que o crescimento obtido pelo país nestas três décadas, de acordo com o investimento, é absolutamente exorbitante. E, certamente, explicado apenas pelo aumento da produtividade.
Assim, é fácil entendermos que o problema de crescimento do Brasil não é do mundo. Muito menos da China. O problema é interno. Tudo que temos de errado é made in Brazil. Pura criatividade tupiniquim. Que fica tentando redescobrir a roda. Ao invés de simplesmente usar a que foi criada há milênios. Precisamos redescobrir a economia. O que faz o mundo. E fazermos igual, sem inventar nada. Copiar muitas vezes é o melhor a se fazer.
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