A crise financeira internacional agravou os problemas de má gestão dos sete países mais ricos do mundo. Suas finanças estão deterioradas e acumulam dívidas de US$ 30 trilhões, mais de 50% do PIB mundial. Com grave estagnação econômica, desemprego recorde e elevados rombos orçamentários, não apresentam um plano consistente de recuperação.
A opção seria impor redução de gastos públicos, incentivar a poupança interna, investir em projetos sociais e em infra-estrutura. Ao invés disso, persistem os gastos inúteis e cortes em setores geradores de emprego e renda. Isso os impede de aumentar arrecadação, resultando em menos dinheiro para fazer a economia acelerar e diminuir o endividamento. Os reflexos dessas decisões contaminam outros países, num efeito dominó, comum num mundo interdependente. É um ciclo vicioso, dentro de um labirinto.
Não existe nenhum país em situação confortável. O intrincado cenário globalizado embaralha vários fatores macroeconômicos, não permitindo descolamento. Entretanto, a mais grave, e que merece muita atenção, é a relação simbiótica e muito tênue, entre União Européia, Estados Unidos, Japão e China, responsáveis por 70% do PIB mundial. Qualquer ruptura, por menor que seja, pode lançar o mundo numa crise sem precedentes, provocando um efeito cascata de conseqüências imensuráveis.
Tenho especial preocupação com a quantidade de dólares que estão sendo emitidos pelo Tesouro americano. O resultado de um sistema monetário artificial tem amplas possibilidades de se voltar contra o próprio emissor e seu impacto inflacionário vai afetar duramente sua economia interna e promover drásticos impactos globais.
Creio que em 2011 os problemas vão evoluir para recessão, em regiões que hoje se vangloriam de estabilidade. Alguns países irão crescer, mas os índices serão anêmicos, por causa de inflação, dívidas, desemprego, agravamento de conflitos políticos e religiosos. Em algumas economias emergentes haverá uma recaída, após fase de expansão pífia.
O Brasil ficou menos exposto porque detém apenas 2,6% do PIB mundial e representa menos de 1% das transações globais. Além disso, o governo manteve todas as políticas consolidadas anteriormente, seguiu na esteira inercial dos bons momentos vividos pelo mundo e ainda se alimenta do que restou daquela pujança, escorado no competente empresariado brasileiro, mercado interno aquecido, incentivos sociais e paraíso imaginário criado pela bilionária propaganda oficial.
Entretanto, tudo isso é efêmero. Existem grandes preocupações com nossa competitividade em queda; parceiros comerciais cada vez mais fracos; ínfimos investimentos em logística, infra-estrutura, saúde, segurança, educação, ciências, tecnologia e inovação; custo de produção, taxas de juros e carga de impostos altíssimos; real supervalorizado; e inflação crescente.
Além disso, estados e municípios quebrados, reformas estruturais postergadas, dívida pública estratosférica, índices de criminalidade inaceitáveis, corrupção e fisiologismo disseminados por todos os poderes da República, leis frouxas e ultrapassadas, o cancro da impunidade e novos conceitos de ética e moral da sociedade criam gargalos intransponíveis para desenvolvimento social e crescimento econômico sustentáveis.
Os desafios para a nova presidente serão hercúleos e estou cética quanto ao seu sucesso, em especial pela forte presença do governo anterior. Não existe superávit para dias de tempestade, nem planejamento para avançar na bonança. E o mundo continua girando, envolvendo o Brasil em sua ciranda globalizada, que por sua vez, vai levando o Espírito Santo, junto, para os inexpugnáveis labirintos de 2011.
Deixar comentário