Em recente evento da AEB, o senhor Antonio Carlos Kieling, diretor superintendente da Anfacer, Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento, afirmou que o preço FOB de exportação do metro quadrado de cerâmica está na casa dos cinco dólares, dos quais 1,20 refere-se ao processo de colocação da mercadoria no navio. Isso representa 24% do preço de venda, o que, sem dúvida alguma, afeta a competitividade do setor.
Avançando o assunto, já numa conversa privada, obtive outras informações: o setor chegou a exportar quase 30% da produção nos idos de 2005-2006, mas hoje está em módicos 6%; nessa época, exportava 160 milhões de metros quadrados de revestimentos, que caíram para os atuais 56, o que representa uma queda de 65%.
Uma análise profunda desses dados implicaria verificarmos o comportamento do mercado consumidor mundial em relação ao produto, a evolução tecnológica e de design dos concorrentes, as estratégias de marketing. Mas nada pode obscurecer o fato de que o peso dos custos de embarcar a mercadoria é mais do que excessivo.
Se fôssemos olhar para o agronegócio, como a exportação de soja, certamente verificaríamos que a parcela do produtor é bem prejudicada pela grandeza do custo logístico de embarcar a mercadoria.
Não vamos demonizar os demais intervenientes: os custos de transportar mercadorias por longas distâncias no lombo de caminhões, fruto das escolhas e decisões do presidente bossa-nova e da ditadura militar, são altos. Os custos de lidar com as crescentes exigências da burocracia e com o acompanhamento da hipertrofiada legislação, também.
Só que a situação não pode perdurar dessa maneira. Hoje os países centrais estão padecendo das consequências da irresponsabilidade da desregulamentação das atividades financeiras, mas podemos ter certeza de que sobreviverão e retornarão mais fortes e competitivos. Já sobreviveram à devastação de três guerras mundiais (não nos esqueçamos das guerras napoleônicas).
Temos de mudar o atual estado de coisas. Certamente, é difícil e caro restabelecer a malha ferroviária, o que reduziria os custos internos de transporte, mas não é difícil racionalizarmos a legislação de comércio exterior e, melhor ainda, a legislação tributária.
O momento atual é favorável a isso, durante a relativa bonança da economia nacional em relação à economia mundial. O Brasil continua com recursos invejáveis, em termos de energia, água, terras agriculturáveis, recursos minerais. Não podemos desperdiçar o que a natureza nos propiciou.
Infelizmente, estamos verificando no MDIC, o retorno da cultura de condenar as importações, como forma de fomentar as exportações. Pessoas despreparadas sobem ao comando de nossas organizações de fomento em comex, sendo que nunca trabalharam com isso. E lá vamos nós, com custo interno altíssimo, tentar exportar o que ninguém precisa lá fora e culpar os importadores pela falta de competitividade…Assim, ficamos nos 1% do comércio mundial